I like you a lot

Eu sei que eu prometi vir aqui contar dos meus Tinderdates do mês passado, mas a minha vida renasceu com o final do inverno e eu estive muito ocupada nas últimas semanas. Sinceramente ainda não sei como consegui dar conta de tudo. Sabe quando você não sabe aonde seu tempo foi parar, porque você não fez nada e o final de semana já acabou? Exatamente isso, só que ao contrário. Eu fiz um milhão de coisas e a sensação que eu tinha é que abril não terminava nunca.

Aulas, papers, final exams, estágio, eventos, Tinderdates, festas, job search, entrevistas, planos pro verão, TUDOAQUIEAGORAEAOMESMOTEMPO. E esse foi meu mês de abril: coisas importantes pra fazer 7 dias por semana e eu ainda consegui terminar um namoro e pegar gente por aí. Pelo menos as temperaturas estavam bem melhores e subindo, variando entre 0 e 12 graus C. Praticamente verão, depois de um longo e tenebroso e recorde-de-neve inverno.

Mas agora que o verão chegou MESMO (T>15 C todos os dias, uhuuu), estou partindo amanhã pra 2 semanitas de férias antes de começar em um novo estágio. Mas parto com o coração na mão, porque abandono aqui meu atual peguete e vizinho, e também mais nova paixãozinha da última semana.



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Conheci meu vizinho no ano passado, em uma noite bizarra no pub da esquina. Minha roommate, na pilha de conhecer gente nova, saiu cumprimentando pessoas aleatórias no bar. Acabamos na casa desse cara que surgiu do nada, porque ele fez a maior propaganda do mundo da maconha que ele plantou no verão. Eu não esperava de jeito nenhum, mas saí de lá ba-ban-do com o apezinho hipster LINDO que ele habita aqui na vizinhança. É um apê pequeno e velho e sem nada especial, mas tudo muito fofinho, arrumadinho, decoradinho, limpinho. Cozinha completa e cheia de temperinhos, indicando que ele sabia cozinhar. Bike linda na parede. E uma varanda charmosinha com vista pro skyline de Boston. 

Por causa dessa noite eu passei a me referir a ele intercaladamente como "meu vizinho Breaking Bad" ou "meu vizinho do apê foda". Inclusive esse é o nome dele na minha lista de contatos no celular até hoje: Fulano Apê Foda. 

Pula 5 meses.

No final do inverno, voltei a retomar a vida social. Comecei a ir a um bar aqui e ali quando eu não estava em NYC, e o vizinho voltou a promover get-togethers na casa dele. E cada vez que íamos lá (eu e alguns amigos), voltávamos tod@s mais encantad@s com o apê e com o dono do apê, que é a pessoa mais fofa do mundo. Em algum momento, não sei precisar quando, ele deixou de ser o vizinho Breaking Bad e passou a ser só o N. E comecamos as especulações sobre a vida amorosa da pessoa, que estava sempre desacompanhada e blasé. Qual era a dele, afinal?

E aí eu fiquei solteira. E comecei a marcar mil encontros por aí. Um deles, inclusive, durante uma festinha na casa do N.: me despedi de todo mundo no meio da noite porque tinha um date de última hora, haha. Depois dessa noite, N. comecou a text me pra falar outras coisas que não fossem convites pra festa.

Na festinha seguinte, eu fiquei muito muito muito muito muito drunk and stoned and whatever porque estava comemorando o final do semestre. Eu tenho vídeos extremamemente constrangedores desse dia, mas que eu adoro rever porque 1) dou risada sozinha lembrando de como eu perdi toda a minha noção fazendo coisas que envolviam balas Tic Tac, a um nível que todos os outros convidados em algum momento simplesmente foram embora da festa e me deixaram lá com o N. 2) Dou um sorriso lembrando que ele disse depois que tudo que ele queria aquele dia era falar "vai todo mundo embora AGORA, menos você". E 3) fico arrepiada quando lembro que ele me pegou de um jeito muito fofo e disse I've been wanting to kiss you for a while.

Depois disso a gente tem se falado todo dia, se visto com bastante frequência, essas coisas. Nada de novo, tudo como costuma ser quando você começa a sair com alguém. Mas o que eu acho legal registrar aqui são minhas descobertas sobre como é a vida de pegação americana. É tipo um How I Met Your Mother que me parece estranho na vida real - mas quem sou eu pra mudar as regras do jogo.

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Depois da noite insana, N. me convidou pra um date "de verdade". Achei isso super coisa de filme, hahaha. Não é que ele me convidou pra jantar, ou quis me mostrar um lugar legal. Ele me convidou para um DATE como se fosse algum tipo de ritual. Fez reserva num restaurante, fomos juntos pra lá, ele fez sugestões do cardápio, pediu pra mim, se comportando awkwardly cute como se não tivesse me pegado loucamente na noite anterior, sabe? Pagou a conta, como manda o figurino, e voltamos pra casa, com beijinho na porta e convite pra subir. E aí caiu minha ficha de que esse carnaval todo faz parte do show de cortejar pessoas. Me parece muito normal nos filmes, só que um date assim depois de já conhecer a pessoa há meses e depois de já ter pegado recentemente, me pareceu muito estranho. 

Esse negócio de pagar a conta, por exemplo, merece um parênteses enorme. 

Início do parênteses 

Não gosto que paguem conta pra mim. Nem motel. Nada. Fico achando que to em dívida, fico achando que tenho que retribuir, e não gosto dessa sensação. Além disso, não tenho nenhum problema com pagar a conta pros outros. Então desde sempre meu procedimento padrão é sempre dividir. Não é que eu seja mal educada e ingrata, eu consigo perceber, por exemplo, a diferença entre um cara que quer pagar a conta porque "assim que é", e um cara que tá só sendo gentil - o que é sempre muito bem vindo. Mas eu quero poder retribuir a gentileza eventualmente também. 

Só que aqui nos EUA os caras pagam a conta de TODOS os dates pelo motivo errado. Eles pagam porque assim que é, porque o homem sempre paga e pronto. O que me soa absurdamente contraditório com tudo que eu tenho vivido e presenciado aqui em relação ao tratamento de mulheres na vida e no trabalho, por exemplo. Aliás, o cara só para de pagar as contas quando não é mais "date", ou seja, quando ele e a mulher já são um casal oficializado. Até lá, nada de conta dividida.

Bom, eu caguei pra essa regra. Divido conta sempre, pago cerveja pra peguete no bar, e não me importo nem um pouco. Mas os dates que eu tive com o N. foram tão bonitinhos, e eu percebi que ele tava se esforçando pra isso, que eu não quis estragar. Deixa ele entregar o cartão pra waitress como manda a etiqueta, que é mais fácil. Nós já conversamos sobre isso, e o que acontece é que eu acabo pagando outras contas depois quando estamos juntos (supermercado, liquor store, etc.).

Fim do parênteses

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O lance dos dates tá tranquilo, mas eu não to sabendo lidar com o resto. Está me incomodando muito o fato de que eu falo com a pessoa todo dia, a gente se vê sempre, temos uma bucket list juntos, eu tenho uma fucking escova de dentes na casa dele (hahahaha, not my fault, eu juro!) e eu não sei o que isso significa. No Brasil eu já teria tido uma conversa do tipo "e aí, como estamos?". Mas quando ele diz I like you a lot, eu não sei o que isso quer dizer nesse contexto. Eu também like him a lot. Não é big deal. Estou me divertindo bastante e to muito satisfeita. Mas vou ficar duas semanas fora, e acho que isso pode mudar tudo, e eu não queria, porque to curtindo e queria continuar curtindo quando voltar. Estou me coçando pra falar alguma coisa, não é possível que ele também não esteja incomodado! Alguém me conta o que tá rolando? Eu to lost in translation, ou o quê?!

Só espero que nem o Primavera Sound e nem o verão catalão me decepcionem. Nem meu vizinho do apê legal. Espero que ele ainda esteja aqui pra mim quando eu voltar. 

3 comentários:

  1. Antes de viajar, joga a bomba: "I will really miss you". O que não deixa de ser verdade. E vê o quê acontece depois. :)

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    1. A despedida foi hoje. Ouvi I'll miss you, text me everyday, e see ya in two weeks. To satisfeita :)

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  2. Hope u don't trash away my toothbrush while I'm out.

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